sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

2011 ... 2012

Mais um ano se passa. Muitas alegrias, tristezas e principalmente aprendizados, a melhor palavra para descrever mais um ano de blog. E neste momento admito que  não sou um escritor como os meus colegas de blog porém isso nunca foi um obstáculo para escrever o que acho conveniente. Aliás o que importa nem é se está certo a forma de escrever e sim se o que está escrito está sendo entendido.

Quero vir aqui agradecer ao Rodrigo Picon por tudo que me ensinou e também por ter sugerido a idéia da junção dos blogs As Vertigens e Escritos Diabólicos. Também quero agradecer ao Rhuan churchil por aceitar o convite e estar participando deste projeto.

Agora, o que eu poderia desejar para o ano que vem? Acho que esse ano foi de grande importância e nessa reta final só tenho a agradecer aos que sempre estiveram juntos neste projeto. As pessoas que respeitam as diferenças, as que vivem dias de luta e dias de glória, e as que acreditam que sempre há uma nova chance para reencontrar-se e recomeçar. E que se nos últimos instantes do dia 31de dezembro serviram para que em apenas um pensamento  reflita o que você espera do amanha. Que a convicção  de ser um Homem simples já baste e que o hoje e o amanha seja uma ótima chance de reflexão.

A importância dos erros em nossa vida  também deve ser lembrada como uma trilha sonora que soa em nossa mente. Aliás, O que é música? Apenas uma forma de expressar  as vertigens que sentimos. Que neste próximo ano a felicidade tome conta de você quando o amor bater a porta e ai aquela dúvida nasce. Então, para onde ir? Pode ficar tranquilo, a vida faz a gente aprender a aprender como as  histórias da a arvore e o garoto, dois garotos e um homem pobre e As Palavras de um anjo. E que este apenas um pensamento reine trazendo dias melhores e alegres como o jeito similar dos Mamonas Assassinas.

2011, sem sombra de dúvida, foi um ano marcante em minha vida. Acompanhei o Lançamento do Livro "O Massacre em Violenttown", emocionei-me com As Palavras de um Anjo, amedrontei-me com a Lenda do Pavoroso Quarto 28 e com O Jogo Maldito dos Smurfs, indaguei, como todos, Até quando? pessoas inocentes vão morrer; diverti-me ao saber como são os "Dias de Dor de Barriga" e revoltei-me com os acontecimentos do Conto "Éramos cinquenta", conheci a história do santo Padre Miguel e a pavorosa história do O Invasor; joguei a história do Jogo Mais Assustador de Todos os Tempos e acompanhei Fritz e Kajre na descoberta do verdadeiro assassino no O Caso John Grishard.
Tem certos momentos em nossa vida em que paramos para refletir, para pensar, para indagar-me se realmente tudo aquilo que eu estava fazendo era certo. Pensava se realmente o 11 de setembro de 2001 foi o maior atentado da História, quando percebi estar mergulhado numa completa e sublime Solidão, assim, ao me verem naquele estado, me alertaram: Cuidado ao Pensar!, e me indaguei: A Inteligência nos faz superiores?

E que 2012 nos permita, No meio do caminho ter uma pedra, obstáculos são necessários para um real aprendizado, como quando aprendemos sobre liberdade quando conhecemos a história do O garoto livre. E que no próximo ano as nossas digitais fiquem marcadas em um certo violão que tenha o objetivo de contar histórias que nos façam bem para quando o amor bater a porta.


Feliz ano novo para todos!!!!!!

Rodrigo Picon e Douglas Andrade

2011: O Ano Revolucionário




2011, sem sombra de dúvidas, ficará para sempre na memória das pessoas como um ano que mudou os rumos da História. Há cerca de um ano, no findar do ano 2010, para agora, muita coisa aconteceu. Vários ditadores cruéis caíram, outros tantos está para cair, muitos protestos aconteceram pelo mundo, muita coisa mudou; muitos, felizmente, para melhor. Pessoas foram às ruas protestar, pedir mudança, não só nos países árabes, mas em todo o mundo, das cidades grandes (como o Occupy Wall Street) às pequenas (como os protestos gerais de 7 de setembro). 2011, sem sombra de dúvida, ficou marcado por esses acontecimentos, ficou marcado por pessoas nas ruas pedindo mudanças...
Revolução, em sua essência, significa romper um ciclo e abrir outro. E não foi só o mundo quem sofreu uma revolução em 2011. Nós mesmos, os seres humanos, neste ano que passou, sofremos revoluções silenciosas, em nossas vidas. Muitos mudaram ou arrumaram um emprego, entraram na faculdade, começaram ou terminaram um relacionamento... todos esses fatos rompem um ciclo existente em nossas vidas e abriram outros. E não foi só nossas vidas quem mudaram em 2011 - nosso âmago também mudou, amadureceu. Vemos o mundo hoje de um jeito totalmente diferente que há um ano, enxergamos hoje coisas que não enxergávamos, quer na nossa vida política, quer na nossa vida social, quer no nosso cotidiano. Também mudamos por dentro.
E o blog Escritos Vertiginosos também sofreu uma revolução. Seu nome foi modificado (chamava-se anteriormente As Vertigens), seus textos amadureceram, seus autores amadureceram, saíram pessoas, entraram pessoas... o blog mudou aos poucos, mês a mês, e agora será mostrado as principais mudanças, mês a mês, que o blog sofreu neste ano que se está findando.

JANEIRO
Os autores, durante suas férias, escreveram vários textos, dentre os quais alguns marcados pelo ano que se iniciava, pelo novo ciclo que se abria.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: A importância do erro em nossas vidas
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: O que é música?

FEVEREIRO
Em clima de Carnaval, que se estendeu até princípio de março, os autores postaram mais textos. A crônica "O garoto livre", de Rodrigo Picon, embarcou em primeiro lugar nos posts mais visitados até por volta de fins de agosto, início de setembro.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: Crônica "O garoto livre"
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Crônica "O garoto livre"

MARÇO
Em março, foram postados mais textos, sem grandes acontecimentos. Contudo, no dia 16 daquele mês, surgiu uma pergunta que cresceu e apareceu inúmeros dias nas redes sociais, criando diversas discussões: "Até quando?"
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: Até quando?
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Quando o amor bater à porta

ABRIL
Abril seguiu os rumos de março, não ocorrendo grandes acontecimentos.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: A inteligência nos faz superiores?
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Então, para onde ir??

MAIO
Maio foi o terceiro mês sem grandes acontecimentos no blog, então As Vertigens.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: Estamos com fome de amor
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Estamos com fome de amor

JUNHO
A excessiva carga de serviços decorrentes da faculdade dos autores, que fizeram não ocorrer grandes acontecimentos nos meses anteriores, teve seu ápice no mês de junho, não tendo nenhum texto publicado.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: -
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: -

JULHO
Naquele mês, ocorriam as férias da faculdade dos autores. Como a cidade em que os mesmos moram (São João del Rei, interior de Minas Gerais) se encontrava num dos seus maiores importantes eventos do ano (o chamado Inverno Cultural), somado ao pedido, mais que necessário, de descanso por parte dos autores, fez com que apenas um texto foi publicado naquele mês.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: Reencontrar-se
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Reencontrar-se

AGOSTO
Problemas internos fizeram vários autores do blog saírem naquele mês de agosto, e o blog ameaçou fechar. Contudo, naquele mês surgiu diversos textos que logo apareceram no TOP dos textos mais vistos. De imediato, apareceu uma nova lenda, a do Pavoroso Quarto 28; em seguida, apareceu um trecho da obra "O Massacre em Violenttown", de Rodrigo Picon Por fim, no findar daquele mês, eis que surge o texto "O jogo mais assustador de todos os tempos", que rapidamente apareceu no topo dos textos mais vistos, retirando a crônica "O garoto livre", e lá ficando até os dias atuais.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: O jogo mais assustador de todos os tempos
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Digitais

SETEMBRO
No dia 10 do mês de setembro, eis que acontece a união dos blogs Escritos Diabólicos, de Rodrigo Picon e o As Vertigens, transformando o blog no Escritos Vertiginosos, que reina com esse nome até os momentos atuais. No mear do mesmo mês, adentrou no corpo de autores Rhuan Churchill, como colaborador. No findar do mesmo mês, eis que surge o conto "As Palavras de um Anjo", escrito por Picon e por Douglas, logo se tornando um sucesso entre os leitores do blog.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: Contos "Éramos cinquenta"
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: As Palavras de um anjo parte 1

OUTUBRO
Outubro foi o mês com o maior número de posts no ano de 2011: 12 no total. Deu-se o mear e o findar do conto "As Palavras de um Anjo", além de outros textos que também se tornaram sucessos, como "O Pernilongo" e "No meio do caminho tinha uma pedra", em homenagem ao nascimento de Carlos Drummond de Andrade.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: O pernilongo
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: As palavras de um anjo Parte 3

NOVEMBRO
No dia 17 de novembro, foi anunciado que iria acontecer o lançamento do livro "O Massacre em Violenttown", de Rodrigo Picon. No mesmo tempo, Douglas R.S. Andrade ficou de tocar no referido lançamento, tornando-se assim o foco principal dos autores do blog. Até o dia 10 de dezembro, o blog Escritos Vertiginosos ficou por conta do referido lançamento.
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: Namorada e namorada nerd
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Quando o amor bater à porta 2

DEZEMBRO

O último mês do ano. No dia 10 de dezembro, ocorreu o lançamento do livro "O Massacre em Violenttown", de Picon. Assim, até a presente data, o blog ficou por conta de noticiar o acontecimento. Em seguida, foram postados diversos textos até a chegada do Natal, com atenção especial ao texto "Ser Magro não é Bom" e o conto "O Caso John Grishard", em que aparecem pela primeira vez o detetive Guilherm Friederich Fritz e seu ajudante Alexandre Kajre, criações do escritor Picon. Nos dias que antecedem o Natal, foram postados dois contos natalinos, "Reencontro na Noite de Natal" e "Natal na Terra do Bom Velhinho". Por fim, foi postado um creepypasta, que logo tornou-se famoso, chamado "O Jogo Maldito dos Smurfs".
MELHOR TEXTO PARA RODRIGO PICON: Ser magro não é bom!
MELHOR TEXTO PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE: Especial de Natal - Natal na terra do Bom Velhinho

MELHOR TEXTO DE 2011 PARA RODRIGO PICON: O jogo mais assustador de todos os tempos (agosto)
MELHOR TEXTO DE 2011 PARA DOUGLAS R.S. ANDRADE:As Palavras de um Anjo parte 1, 2 e 3 (Setembro e Outubro)

Em 2011, foram postados 54 textos, sendo outubro o mês com maior número de posts (12) e junho o menor (0).
No final do ano de 2011, assim ficou o topo dos textos mais visitados:
- O JOGO MAIS ASSUSTADOR DE TODOS OS TEMPOS (agosto)
- LANÇAMENTO DO LIVRO "O MASSACRE EM VIOLENTTOWN" (novembro)
- TRECHO "O MASSACRE EM VIOLENTTOWN" (agosto)
- CRÔNICA "O GAROTO LIVRE" (fevereiro)
- O PERNILONGO (outubro)
- O QUE É MÚSICA? (janeiro)
- HOMEM SIMPLES (dezembro de 2010)
- AS PALAVRAS DE UM ANJO - PARTE I (setembro)
- A LENDA DO PAVOROSO QUARTO 28 (agosto)

E esse foi o ano de 2011 no Escritos Vertiginosos. Em nome de todos os autores e colaboradores do blog, desejo a todos um Feliz Ano Novo, com muita saúde, paz, harmonia, segurança, e que 2012 venha melhor que esse ano que se está findando. Estes são os votos dos autores do Escritos Vertiginosos.
E aguardo a todos em 2012!

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

O JOGO MALDITO DOS SMURFS




O que será lido adiante é um creepypasta, lendas modernas difundidas pela internet, por fóruns, e-mails e redes sociais. Normalmente podem ser fictícias, sem provas ou fontes confiáveis, ficando assim apenas como um conto de terror, mas... e se forem reais?

Um diário foi encontrado em uma casa onde ocorreu um estranho acontecimento: uma garota, de 17 anos, de nome Maria Augusta Soares, desapareceu sem deixar nenhuma pista. No momento, Maria estava sozinha em casa e a mesma se encontrava completamente trancada. No banheiro da casa, foi encontrado um gravador, cuja voz gravada ficou reconhecido pelos parentes ser da desaparecida. Em seu quarto, foi encontrado seu diário. Analisaram-nos, a fim de encontrar pistas que esclarecessem seu estranho desaparecimento.

“23 de novembro de 2011
Querido diário,
Hoje fui ao centro da cidade dar uma volta. Aproveitei que estava com tempo livre e adentrei na loja dos vendedores ambulantes. De imediato, percebi que um dos vendedores vendia jogos antigos de vídeo-game, em especial para Mega Drive e Super Nintendo. Como quando criança minha mãe dera a mim e ao meu irmão um Mega Drive 3, comecei a fitar os jogos à venda do vídeo-game em questão. Percebi ter vários jogos que eu já possuía, zerei-o infinitamente e posteriormente me livrei destes. Contudo, havia um jogo que eu já tivera e nunca consegui zerar: o jogo dos Smurfs. Para a época que eu joguei, achei-o incrivelmente difícil, apesar de ser tecnicamente bobo. Peguei-o e perguntei ao vendedor quanto custava. Ele fitou-me com um olhar de surpresa e perguntou a mim:
- Tem certeza de que quer levar esta fita?
- Algum problema com ela?
- É que... – dizia o vendedor, mas foi interrompido por uma cliente, que chamou a atenção para si
Outro vendedor, da mesma loja, mais novo que o primeiro, chegou até mim e me perguntou:
- Posso ajudar?
- Quero levar essa fita, mas parece que aquele senhor iria me dizer algo sobre ela!
Com um sorriso no rosto, ele respondeu-me:
- Não é nada, senhorita. Ele é meio senil. São dois reais, vai querer?
Achei estranho os acontecimentos, contudo, a vontade de jogar novamente aquele velho jogo acabou por me fazer comprá-lo. Retirei o dinheiro de minha bolsa, paguei-o, guardei a fita em seu lugar e parti, em direção a minha casa. Tão logo cheguei em casa, liguei meu velho vídeo-game e comecei a jogar a fita. Naquele instante, temi que a mesma não funcionasse, como acontecia rotineiramente no passado. Entretanto, para minha surpresa e felicidade, eis que ela funcionou. Logo, arrumei o jogo de MEDIUM para EASY e, em seguida, comecei a jogá-lo.
Joguei a primeira fase do jogo. E como era fácil. Em pouquíssimos minutos, passei pela fase no vilarejo dos Smurfs. Joguei a segunda e a terceira fase, respectivamente, na floresta e na ponte quebrada, do jogo na mesma facilidade que joguei a primeira fase. Quando criança, pensei que o jogo fosse difícil, todavia, crescida, o jogo se tornou fácil para mim.
Iria adentrar na quarta fase do jogo, quando minha mãe apareceu e me pediu para parar de jogar. Ela precisaria da TV da sala, a única que ainda ligava aquele obsoleto vídeo-game. Conversei com minha mãe se ela poderia esperar eu terminar a quarta fase. Assim, eu poderia pegar o password e não precisaria repetir as três primeiras fases. Entretanto, minha mãe foi irredutível e me obrigou a desligar o vídeo-game naquele instante. Fiquei furiosa e, enquanto desligava o vídeo-game, acabei por injuriar minha mãe, o que acabou deixando-a irritada e, assim, me colocou de castigo. Além de findar a noite no meu quarto, não poderei jogar vídeo-game durante uma semana.
E agora estou eu aqui: presa em meu quarto, sem poder ligar TV, computador, nada... queria dormir, mas estou sem sono. Estou doida para jogar The Smurfs novamente. Uma semana terei de esperar... que merda!
Bom, diário, vou deitar um pouco. Tentarei tirar o jogo e a vontade de jogá-lo da minha cabeça.”

“24 de novembro de 2011
Querido diário,
Cá estou eu novamente, presa em meu quarto por mais uma noite. Acordei pela manhã com uma vontade insana de jogar The Smurfs. Parecia viciada, ou possuída por um espírito insano por aquele jogo. Fui para a escola e, assim que voltei, aproveitei que a casa se encontrava vazio e liguei o vídeo-game. Queria passar da quarta fase. Pelo menos, assim, eu poderia ter o password que me dava a prerrogativa de não mais jogar aquelas quatro fases.
Estava indo bem, entretanto, estava tão absorta no jogo que acabei por não reparar minha mãe chegar do serviço para o almoço. Acabou pegando-me no flagra. Além de ouvir um sermão de quase meia hora, cá estou eu novamente: presa em meu quarto, além do fato de meu castigo para com o vídeo-game ter seu tempo aumentado em mais uma semana.
Acho que terei de esperar esse tempo passar...”

“4 de dezembro de 2011,
Quase nem consegui dormir os últimos dias pensando incessantemente no jogo The Smurfs. O que aquele jogo tem de tão especial que prendeu minha mente nele?
Minha mãe, ao perceber meu bom comportamento, acabou por deixar-me jogar vídeo-game novamente, desde que não mais a desobedecesse, ou lhe ofendesse. Liguei o vídeo-game e logo coloquei a fita do The Smurfs. Contudo, naquele instante, o vídeo-game não reconheceu a fita. Um suor frio começou a escorrer pelas curvas de meu corpo. Só faltava essa..., pensei, de imediato.
Assoprei a fita e a coloquei novamente. Desta vez, funcionou. Um alívio percorreu meu corpo. Liguei-o. Joguei as três primeiras fases facilmente, como sempre, e adentrei na quarta. Era novamente em uma floresta, contudo, havia os Smurfs negros e os pernilongos, que matavam seu personagem e o transformava em Smurfs negros.
Num descuido meu, no meio da fase, acabei por ser acertada por um pernilongo. Entretanto, para surpresa minha, meu personagem não morreu, nem tive de reiniciar a fase. Meu Smurfs, agora enegrecido, continuou a fase, como um insano, pulando continuadamente e atacou furiosamente a todos. Não tinha controle sobre meu personagem. Malditos jogos comprados com vendedores ambulantes. Sempre lotados de bugs.
Tão logo findei a quarta fase, adentrei no chefe daquela fase. Era uma planta carnívora com três bocas, e cada vez que acertava uma delas, um Smurfs negro aparecia. Ainda estava sem controle do meu personagem. Venci o chefe facilmente e, em seu lugar, normalmente aparece uma chave, para soltar um companheiro Smurfs preso por Gargamel, o vilão do jogo. Entretanto, para minha surpresa, o Smurfs preto não pegou a chave e soltou o personagem preso; pegou o objeto e quebrou-o, em seguida, cortou a corda que deixava pendendo a grade com o Smurfs preso, deixando a mesma ir ao chão. Com a queda, a grade partiu, deixando, no local, o Smurfs preso todo ensanguentado. Em seguida, o Smurfs preto partiu do local.
Fiquei estupefata diante o que vi. Pensei em desligar ali mesmo aquele jogo, contudo, apareceu para mim o password. Anotei-o rapidamente e, em seguida, desliguei o vídeo-game, e corri para meu quarto. Estou sozinha em casa, e o medo percorre minhas veias. Diário, o que foi aquilo? Estou assustada.”

“15 de dezembro de 2011,
Querido diário,
Já se faz bastante tempo que não jogo The Smurfs. Depois do que aconteceu... contudo, creio ser apenas um bug criado por um hacker sem noção, talvez para pregar peças nas pessoas.
Como machuquei minha mão direita ontem, ao invés de narrar para ti de forma escrita, narrarei usando o meu velho gravador. Finalmente achei uma utilidade para ele...”

Foram as últimas palavras escritas no diário de Maria. Passaram as investigações para o áudio encontrado no gravador.

“Querido diário,
Liguei o jogo novamente, e usei o password. Apareci na fase do lago, a quinta fase. Não estava enegrecido, então logo pensei que o fato da quarta fase fora apenas um bug. Comecei a jogar a fase calmamente. Passei rapidamente, como sempre acontecia. Contudo, aquela fase era diferente das demais: tão logo terminava a fase do lago, adentrava no Haunted Lake. Era, sem sombra de dúvida, uma das fases mais difíceis de passar e que mais causava medo nos jogadores, principalmente porque estes normalmente são crianças.
Joguei-o normalmente, contudo, de imediato tomei um susto. Um raio logo à minha frente, como acontece normalmente na fase, entretanto, seu som foi não o costumeiro, mas sim o de um relâmpago de verdade caindo. O trovão fora ensurdecedor, e fez-me saltar do chão, onde eu me encontrava sentada.
Continuei a caminhar pela fase. Havia um rosto no fundo que lançava pequenas faíscas para o chão. Quando isso acontece, o mesmo fez um estranho barulho. E ele fez, contudo, foi mais assustador que de costume. E não foi só esse fato que fora bizarro: normalmente o rosto lançava apenas duas a três faíscas no chão simultaneamente; daquela vez ela lançou uma nuvem, cobrindo o ar da tela inteira. Não tinha para onde fugir. Acabei recebendo o golpe, que também me assustou. Apareceu uma ferida no lugar onde o Smurf recebeu o golpe, e começou a verter sangue. O mesmo começou a chorar, por causa da dor.
Apertei para o meu personagem prosseguir na fase, contudo, o mesmo não me obedecia. Ficou ali, parado, chorando de dor. Felizmente, antes do rosto lançar mais daquelas pequenas faíscas, retomei o controle do personagem e parti imediatamente do local.
Continuei minha caminhada tenebrosa do local, assustando-me com os contínuos raios que caíam e cumprindo as obrigações necessárias para dali partir.
Entretanto, tudo mudou quando apareceu o primeiro fantasma da fase. Normalmente, são personagens deformados, com gráficos rústicos, primitivos, entretanto, aquele era perfeito, parecia retirado de um filme de terror ou algo parecido. Era extremamente real e se encontrava no chão. Ao ficar frente a frente ao personagem, eis que surge a seguinte fala, dita pelo fantasma:
- O sonho tem que acabar!
Estava traduzido, o que demonstrou que o jogo hackeado fora feito no Brasil.
Junto da fala do fantasma, começou a tocar a marcha fúnebre. Aquilo começou a amedrontar-me. Tentei desligar o aparelho, mas não logrei êxito. Apertei novamente o botão para desligar o vídeo-game, mas novamente não logrei êxito. Fiquei com medo. Continuei a fitar a tela da TV, a fim de entender o que estava acontecendo. Tentei acalmar meu âmago. ‘Era apenas uma parte hackeada, para dar medo’, repetia incomensuravelmente para mim mesma.
- O sonho tem que acabar, pequeno Smurfs! – repetiu o fantasma
- Por quê? – perguntou o Smurfs
- Você é o último Smurfs sobrevivente...
O Smurfs virou o corpo para trás. Naquele instante, percebeu todos os demais Smurfs da vila caminhando vagarosamente em sua direção, arrastando os próprios corpos como fardo, e mergulhados em sangue próprio.
O Smurfs principal fugiu do local, sendo perseguido pelos seus companheiros. Estava achando grotesca a cena, até que o foco do vídeo passou novamente para o fantasma. Este se encontrava frontalmente à tela principal; seus olhos, sua fisionomia, tão reais, amedrontavam-me. Contudo, o que amedrontou-me mais foi sua fala:
- O sonho tem que acabar, Maria!
Naquele instante, sobressaltei. Meu coração foi a mil no interior de meu peito, ofeguei-me, comecei a tremer e a suar frio. Como o jogo poderia saber meu nome?
No mesmo instante, larguei o manete no chão e afastei-me da TV.
Em seguida, junto do fantasma, no centro da tela, apareceram os demais Smurfs, os que estavam zumbificados. Em seguida, a cena foi trocada por uma espécie de ritual. Havia uma cruz no centro, mergulhada em um intenso fogo. Crucificada, estava alguém, morto, mergulhado no próprio sangue. Sobressaltei-me quando focalizaram o rosto da pessoa crucificada: era eu!
Gritei, tamanho o susto. Em seguida, voltou à cena anterior. Meu coração estava aperto e afoito no meu peito. O fantasma virou, apontou sua mão até mim e disse:
- Venha, Maria. Este mundo não mais lhe pertence!
Assustei-me, mas nem tive tempo de reagir. Tão logo proferiu sua frase, o fantasma, junto dos Smurfs zumbis, simplesmente saiu da tela da TV e começou a caminhar vagarosamente em minha direção.
Afastei-me rapidamente da tela da TV. Em seguida, levantei-me e corri, para o mais longe que podia. Tentei sair de casa, contudo, minha mãe trancou-me em casa... esqueceu-se novamente que eu me encontrava em casa... Merda!
Corri para o primeiro cômodo com porta que achei: o banheiro.
E cá estou eu, diário... sentada em uma privada, trancada no banheiro de casa, enquanto um fantasma e uma porção de zumbis tomam conta da minha casa...
E agora, o que eu faço? Estou desesperada... (ouve-se o barulho de pingo caindo no chão). Deus, Deus, ajude-me, ajude-me, por favor, Deus, ajuda-me... Permita-me sair dessa.
(Ouve-se o barulho de uma porta sendo forçada). Creio em Deus, (o barulho repete-se), Todo-Poderoso (novamente o barulho), criador do céu e da terra (um barulho homérico de porta sendo não forçada, mas arrombada. Ouve-se, em seguida, um grito, de uma garota desesperada. Em seguida, o lugar fica mudo).
Na investigação que ocorreu em seguida à escuta do gravador, os policiais averiguaram o vídeo-game e constataram de que o mesmo não recebera nenhuma fita havia, no mínimo, oito anos...

domingo, 25 de dezembro de 2011

Feliz Natal



Rodrigo Picon, em nome de todos do Escritos Vertiginosos, deseja a todos um Feliz Natal, com muita saúde, paz, amor, harmonia e tudo mais o que desejamos nessa data.
A todos, aproveitem o espírito de Natal seja harmonioso com todos, não importa se é cristão, muçulmano, judeu, budista, ateu, branco, negro, asiático, baixo, alto, homossexual, heterossexual, deficiente físico ou mental, homem ou mulher, acima de tudo somos uma coisa só: ser humano.
Aproveitem também esta data para ajudar os outros. E que o espírito de Natal fiquem nos corações de todos por todo o próximo ano...

Especial de Natal - Natal na Terra do Bom Velhinho



Jimmy, Tommy e Natasha eram três crianças, todas com 10 anos de idade e moradores de uma pequena cidade. O Natal estava chegando e todos estavam felizes, as residências já se encontravam arrumadas, as pessoas já estavam prontas para comprar os presentes, tudo estava em clima de Natal. Entretanto, Jimmy não estava todo alegre, seu maior sonho nunca foi realizado: conhecer o Papai Noel!
Tommy e Natasha já haviam desistido de convencer o garoto a desistir de seu sonho; demasiado fiel a ele era Jimmy.
Era quase véspera de Natal, faltavam apenas poucos dias para a grande data e os três amigos estavam deitados em um pequeno gramado, apreciando a vastidão daquele céu lindo, suas estrelas e a lua em seu zênite.
- O Natal está chegando... – disse Natasha, tentando puxar conversa com seus amigos
- Eu adoro o Natal! – disse Tommy, sorridente – É época de reunir os amigos, a família, é o melhor feriado do ano!
- Verdade!
Natasha e Tommy mostravam-se claramente, através de seus rostos, a felicidade por ser véspera de Natal. Porém, Jimmy mostrava-se claramente, através de seu rosto, que estava um pouco triste, abatido com alguma coisa. Ao perceber, Natasha perguntou, preocupada:
- Aconteceu alguma coisa?
- É que lá vai mais um ano e nunca consigo ver o Papai Noel! – respondeu Jimmy
- Você não vai mesmo tirar da sua cabeça essa sua ideia maluca, né?
- Claro que não! – respondeu o garoto – Qual criança não quer conhecer o Papai Noel?
- Olhem. Olhem! – disse Tommy, desesperado. O garoto olhava para o céu.
Jimmy e Natasha olham para o céu. O trio vê uma estrela cadente atravessando o céu.
- Vai, Jimmy, faz seu pedido. Vamos ver se ele se concretiza! – disse Natasha
Jimmy começa a pensar em seu desejo: “Eu desejo conhecer a terra do Papai Noel. Eu desejo conhecer a terra do Papai Noel. Eu desejo conhecer a terra do Papai Noel”
Acontece um brilho.
Passa-se bastante tempo, apesar de ninguém saber exatamente quanto...
Jimmy, Tommy e Natasha, ambos com a cabeça ardendo de dor de cabeça, acordam, em um cenário totalmente diferente de onde dormiram. Ainda estavam bastante sonolentos e o mundo parecia girar para os garotos.
- On...Onde estamos? – perguntou Jimmy
Estavam em uma enorme planície toda coberta por gelo. Havia poucas árvores, pinheiros, dentro daquela vastidão gelada. Entretanto, por incrível que parecesse, Jimmy, Tommy e Natasha não estavam sentindo frio, por mais inapropriada para suas roupas fossem para aquele tempo.
- Parece que estamos em algum deserto de gelo! – disse Tommy. Como sempre, o garoto mostrava-se ser o “crânio” do trio
- Como viemos parar aqui? – perguntou Natasha – E como não estamos sentindo frio, mesmo estando no meio de um deserto de gelo?
- Olhem! – disse Jimmy. Ele estava afastado dos garotos, no cume de um desfiladeiro. O garoto estava olhando para baixo e parecia não ter vertigem com a altura
- O que foi? – perguntaram Tommy e Natasha, ambos caminhando em direção ao amigo
Quando o trio se reuniu novamente, Tommy e Natasha viram o que Jimmy já havia visto: no sopé do pequeno desfiladeiro havia uma gigantesca casa, com um letreiro escrito a neon: “Casa do Papai Noel”
- É a casa do Papai Noel! – disse Tommy, surpreso
Um sorriso de satisfação abre no rosto de Jimmy.
- Vamos lá! – disse, enquanto descia o desfiladeiro, sob os gritos contrários de seus amigos. A animação do garoto era imensa, afinal, seu sonho estava começando a se tornar realidade.
Como Jimmy não lhes obedeceu, Tommy e Natasha tiveram de descer atrás dele. Jimmy foi o primeiro a chegar ao sopé do desfiladeiro, seguido de seus amigos.
- Vamos entrar! – disse Jimmy, mas Tommy segurou-o pelo colarinho
- Acalme-se, Jimmy. Acalme-se! Não sabemos se podemos ir entrando na casa do Papai Noel assim, só porque ele é o Papai Noel! Olhe! – disse, observando a porta de entrada da casa, onde havia vários homens parados vestidos de smoking parado na porta. Jimmy obedece a Tommy. – Viu? Há vários seguranças na porta da casa do Papai Noel.
- Por que haveria de ter seguranças na casa do Papai Noel? – perguntou Natasha
- Apesar de muitos acreditam que ele não existe, o Papai Noel ainda é o Papai Noel. Além do mais, ele entrega presentes para o mundo inteiro, portanto sua casa deve de estar lotada de presentes. É claro que vai ter seguranças.
Jimmy fica em silêncio. Tommy lhe solta.
- Venha! – disse, se deslocando em direção à lateral da casa – Eu me lembro de ter visto uma espécie de trenzinho entrando pelos fundos da casa.
- Vamos entrar escondidos na casa do Papai Noel? – perguntou Natasha, para Tommy, enquanto o trio se dirigia aos fundos da casa
- Melhor que tentar entrar pela frente! – disse Tommy
Jimmy estava em completo silêncio. Estava tão apreensivo de a hora chegar, que mal conseguia formular uma frase sem gaguejar.
O trio chega aos fundos da casa. Havia um trilho onde um enorme trenzinho, carregado de matéria-prima, entrava na enorme mansão. O trilho corta a planície até perder de vista.
- Vamos entrar escondidos pelo trenzinho! – explicou Tommy
E assim todos fizeram. Entraram em um dos enormes vagões daquele trem, se escondendo entre as matérias-primas de fabricação de brinquedo.
O trem entrou na casa do Papai Noel, por meio de túnel. O local era escuro e apertado, como uma espécie de esgoto.
- Onde estamos? – perguntou Natasha, com medo
- Parece que entramos na casa do Papai Noel! – disse Tommy – Agora falta achá-lo!
- Gente... – disse Jimmy, um pouco desesperado, olhando fixamente para frente - Olhem!
Tommy e Natasha olham para frente, acompanhando o olhar do primeiro. Eles percebem que o túnel havia se findado, entrando em uma imensa galeria, bem mais iluminada e bem maior que o túnel, mal dava para ver o teto. O trio fica maravilhado, diante da grandeza do local, mas não só pela grandeza, mas diante da maquinaria que preenche o local: era uma legítima fábrica de brinquedos. Entretanto, ao contrário de uma fábrica normal, a linha de produção desta não era lateral, era vertical, para cima e, ao contrário do que os garotos haviam reparado, para baixo também.
Maravilhados pelo local, os garotos, enquanto vislumbravam a galeria, não repararam no precipício ao fim dos trilhos, só percebendo quando caíram junto do trem.
Ao contrário do que se imaginaria a princípio, o trem não caiu em queda livre, ficou grudado aos trilhos, seguindo-os pela parede e depois cortando a galeria, como uma montanha-russa. Entretanto, além da enorme velocidade adquirida, os trilhos ainda rodopiavam, para os brinquedos caírem no lugar certo. Jimmy, Tommy e Natasha tinham que se segurar para não caírem, sabe-se lá aonde. Era mais do que óbvio que os corações das crianças estavam mil por hora e as crianças não paravam de gritar.
Depois dos rodopios e da montanha-russa em pleno ar, sem ter chão abaixo, o trem segue o resto do trilho, entrando em uma porta que se confunde com a parede. Os garotos estavam nauseados, caídos no chão do vagão vazio, tontos. Ou melhor, todos, não, apenas Tommy e Natasha. Jimmy estava sentado no local, sorridente. Aquilo tudo que nauseou seus amigos, para Jimmy, era apenas uma deliciosa brincadeira.
- Foi muito maneiro! – disse, esbanjando sorridente, assim que tudo acabou
- Só se for... pra você! – disse Natasha, com a cabeça ainda girando, de tão tonta que estava. Situação semelhante estava Tommy
Depois da enorme galeria e do pequeno túnel, o trem parou dentro de uma grande sala, lotada de presentes.
Jimmy desceu do trem. Já melhores, Tommy e Natasha estavam sentados no trem e a última perguntou:
- Onde estamos?
- Parece que aqui é a sala do Papai Noel! – disse Jimmy
Os dois garotos descem do trem e andam até o remanescente, enquanto Tommy perguntava:
- Por que diz isso?
- Olhem! – disse Jimmy, enquanto seus amigos chegavam até a posição dele
Tommy e Natasha, lado a lado a Jimmy, olham para onde o garoto estava olhando. Eles perceberam que estavam dentro de uma sala enorme, lotada de presentes, com um senhor gordo, de roupas vermelhas, chorando debruçado na mesa que preenchia um fragmento do espaço daquela sala.
- Espera aí. – disse Tommy – Estamos na sala do Papai Noel? – perguntou, surpreso
O velhinho escutou a voz das crianças e olhou.
- Crianças?! – perguntou, surpreso, assustando as crianças
Percebendo que as crianças ficaram acuadas, o velhinho, de barbas longas e grisalhas, gordo, roupas vermelhas, se levantou e disse:
- Acalmem-se, acalmem-se, não vou lhes fazer mal!
Os garotos voltam à posição normal.
- Papai Noel, é você mesmo? – perguntou Jimmy, demasiado feliz
- De fato, eu tenho essa alcunha! – disse o bom velhinho, com voz de bonachão
Jimmy, agora sem segurar suas lágrimas, sai correndo em direção ao Papai Noel e o abraça.
Rindo como um legítimo bonachão, o bom velhinho diz:
- Não precisa de tanto, meu jovem. Não precisa de tanto!
- Era o desejo dele conhecê-lo, Papai Noel! – explica Natasha
- Olha, eu não sabia. Por que não falaram antes? – disse Papai Noel, enquanto abraçava o garoto mais forte
Depois do momento encontro, Tommy pergunta para o bom velhinho:
- Papai Noel, quando chegamos aqui, você estava chorando. Por quê?
- Desculpem colocá-los no meio dos meus problemas!
- Não se preocupe! Estamos aqui para ajudá-lo no que der e vier! – disse Jimmy, ainda sorridente
- Vocês podem me ajudar a entregar os presentes? É que já estou ficando velho e não sei se darei conta do recado!
- Claro que podemos, Papai Noel. Será uma honra!
- Bom que recebemos uma carona para voltar depois! – disse Tommy
- A última cidade que entregamos será a de vocês, meus jovens...
- Eu sou Jimmy! – disse Jimmy – E estes são Tommy e Natasha!
- Jimmy, Tommy e Natasha, os novos ajudantes do Papai Noel! – disse o bom velhinho – Vamos pôr a mão na massa, que a noite é longa e o trabalho também!
Enquanto Jimmy, Tommy e Natasha começam a povoar o trenó do Papai Noel de presentes, para partirem em direção ao mundo, o quarteto resolveu cantar, para animá-los enquanto trabalhavam.
{Obs: o nome entre parênteses é o nome de quem cantou a última estrofe)

“Hoje é dia de festa,
Hoje é dia de entrega
Os presentes vamos entregar
Pois essa é a magia do Natal [Papai Noel]
Nenhuma casa vai deixar de a gente receber
Nenhuma criança, neste Natal, presente vai deixar de ter
É dia de festa, é dia de alegria
Pois é o dia do Natal [todos]
Como eu gosto do Natal
É época de presentes receber
Melhor ainda é a presença do Papai Noel ter [Jimmy]
É hora de o Papai Noel começar a trabalhar
Distribuir presentes e alegria
A todos as crianças deste vasto mundo [Tommy]
Crianças, é hora de embarcar
Pois muitos presentes temos que entregar
Não podemos nos atrasar
Visitar o mundo inteiro agora iremos [Papai Noel] [...]”

A turma embarca no trenó do Papai Noel, sem parar de cantar. Em seguida ao embarque, eles partem em direção aos céus do mundo:


“[...] Nenhuma casa vai deixar de a gente receber
Nenhuma criança, neste Natal, presente vai deixar de ter
É dia de festa, é dia de alegria
Pois é o dia do Natal [todos]
Ah, como eu quero Paris conhecer
A Cidade-Luz, a mais bela deste planeta
Comprar presentes para todos meus familiares
Joias e mais joias [Natasha]
Como eu quero conhecer a Itália
Estudar pela história de Roma
Conhecer de perto do Santo Papa
E comer a pizza daquela terra [Jimmy]
Como eu quero de perto conhecer o Brasil
Nadar nas praias do Rio de Janeiro,
Conhecer a cultura milenar dos índios e negros
E conhecer a flora e fauna da nossa terra maravilhosa [Tommy]
Podemos conhecer toda essa terra, é só querer
Paris, Itália, Brasil, vamos todos conhecer
É só os presentes lá entregarmos [Papai Noel]
Nenhuma casa vai deixar de a gente receber
Nenhuma criança, neste Natal, presente vai deixar de ter
É dia de festa, é dia de alegria
Pois é o dia do Natal”
Quando terminaram de cantar, o trenó do Papai Noel estava sobrevoando uma pequena cidade, cuja população estava desesperada. Tinha polícia nas ruas, pessoas chorando, um corre-corre.
- O que será que está acontecendo? – perguntou Jimmy, preocupado
- Parece que estão atrás de alguém! – disse Papai Noel
- Será que estão nos procurando? – perguntou Natasha
- Por que diz isso, Natasha? – perguntou Jimmy
- Olhe, Jimmy! – disse Natasha, apontando com os olhos para o chão. Jimmy lhe obedece – Veja quem está mais nervoso!
Jimmy percebe uma mulher chorando nos ombros de um senhor, de idade semelhante à dela, ao lado de um policial. Ao ver a cena, os olhos de Jimmy mudam de expressão, demonstrando uma melancolia.
- Mamãe! – disse o garoto
Todos ficam em silêncio enquanto o garoto era tomado pela melancolia.
Papai Noel coloca a mão no ombro do garoto e diz:
- É chegada a hora de retornarem!
Era uma modesta casa. O local estava todo enfeitado para o Natal, enquanto a mesa da cozinha da pequena casa estava cheia de guloseimas, parecia que um eminente jantar era iminente naquela casa.
Papai Noel entra na casa pela porta da frente, junto dos seus pequenos ajudantes.
- Obrigado por tudo que fizeram por mim, meus pequenos ajudantes! – disse o bom velhinho – Sem vocês, talvez milhares de crianças hoje não estivessem recebendo presentes!
- Foi uma honra ajudar o Papai Noel! – disse Jimmy, sorridente
- Até mais, crianças. Agora é hora do bom velhinho voltar para sua terra!
O trio se despede do Papai Noel, enquanto ele parte.
- Foi uma viagem inesquecível! – disse Jimmy, sorridente
- Com certeza! – disse Tommy
O trio escuta um homem falando, do lado de fora da porta da casa:
- Vamos. Você precisa comer. A polícia achará nossos filhos!
O trio percebe uma mulher, aos prantos, dizer:
- Tu...Tudo bem!
A porta da casa se abre. O casal que Jimmy havia visto anteriormente entra na casa. A mulher, ainda aos prantos, ao ver os garotos, diz, correndo em direção a eles:
- Jimmy!
A mulher abraça o garoto muito forte. Outras duas senhoras fazem o mesmo, com Tommy e Natasha.
Depois da sessão reencontro, de um breve intervalo de choro emocionado das senhoras, a mãe de Jimmy lhe pergunta:
- Onde estavam?
- Com o Papai Noel! – respondeu Jimmy
- Não mente, Jimmy, é feio! – repreendeu a mãe – Onde estavam?
- É sério, mãe. A gente estava com o Papai Noel entregando presentes pelo mundo!
De repente, todos ouvem sinos batendo do lado de fora da casa, e se dirigem até a rua. Ao chegarem à rua, veem o trenó do Papai Noel sobrevoando o local, dando tchau para todos, antes de dizer:
“Ho! Ho! Ho! Feliz Natal!”

sábado, 24 de dezembro de 2011

Especial de Natal - Reencontro na Noite de Natal




Quase já não me lembro dessa cena, de tão antiga que é, exceto quando sonho com ela. Ainda me lembro, era uma noite de inverno, nevava horrores e a cidade toda estava iluminada pelas luzes natalinas. Era 24 de dezembro, véspera de Natal e eu estava no meio da praça, coberta de neve, conversando com uma garota. Tanto eu quanto ela ainda éramos pequenos e vestíamos roupas pesadas.
A garota estava de costas para mim. Parecia triste.
- Esse é o último ano que passaremos o Natal juntos, Matt! – disse a garota, triste
- Não se preocupe, Mary! – eu disse, andando até chegar ao lado da garota – Ainda nos veremos!
- Eu tenho medo disso acontecer, Matt! – disse a garota, virando-se para mim.
Aquele par de olhos fitando-me angustiados me deixava em uma sensação única, uma mistura de angústia com êxtase.
- Não vai acontecer nada de mais, Mary. Por mais que seus pais mudarão de cidade, tenho certeza de que volta e meia eles estarão aqui, trazendo-o para me ver!
Mary caiu em meus braços, começando a se debulhar em lágrimas. Por um momento, eu estava com Mary, a minha melhor amiga e a primeira garota que eu amei, em meus braços, antes de ela desaparecer como em um sonho, para sempre...
Acordei em minha cama. Estava dormindo de frente, todo arrumado sob a montanha de cobertores. Em meus olhos tinha a mostra dos meus sentimentos naquele instante – lágrimas.
- Quanto tempo não tenho... esse sonho! – pensei, enquanto me livrava dos cobertores
Era uma manhã fria de inverno. Minha casa, assim como as demais da cidade, estava enfeitada, porque o Natal estava chegando. Meus pais e amigos iriam passar o Natal em minha casa, para os primeiros conhecerem o novo lar do filho querido, depois que eles saíram da cidade.
Caminhei até o banheiro. Lavei o rosto.
- Já se faz dez anos... – eu disse, olhando para o espelho do banheiro, que refletia a imagem de um jovem esfomeado, com cabelo desdenhado e um sono dos infernos...
Aquele sonho não tinha saído da minha cabeça. Por que dele agora? Será uma profecia, um sinal? Ou será que é um adeus definitivo? Não sabia, mas queria logo saber
Cerca de vinte minutos depois, eu estava na rua, com roupas diferentes da que eu estava em casa. A cidade estava enfeitada, o clima de Natal já havia tomado todos os cantos daquela cidade.
Como faltavam pouquíssimos dias para a grande data, o centro da cidade estava lotado; milhares e milhares de pessoas estavam afoitos procurando por presentes. Eu, ao contrário dessas milhares e milhares de pessoas, já estava com todos os presentes em casa – dos meus pais e dos meus amigos. Ao contrário de quase todos meus amigos, e de quase toda a cidade, não tinha uma namorada. Minha mãe estava louca para eu ter, e não é que eu não queria ter, mas minha personalidade não me permitia, digamos, se aproximar direito das garotas.
Eu estava andando pela cidade, ou melhor, tentando, porque o local estava lotado.
- Eu sabia que não foi uma boa ideia ter vindo pro centro... – pensei. Deveria ter feito caminhada em outro lugar, no meu bairro, por exemplo.
Estava me espremendo entre a massa populacional quando, diante de mim, passou uma garota muito linda. Olhos azuis, loira, curvas perfeitas. Meu Deus!, a garota era muito linda. Infelizmente, uma garota como aquela nunca me daria bola em toda minha vida.
Entretanto, assim que vislumbrei aquela garota, tive um rápido flashback. Não foi como em um sonho, ou mesmo como uma visão, foi um rápido flashback, como se fosse um flash mesmo. Na minha frente, apareceu rapidamente, por um instante, a imagem da Mary me abraçando, quando crianças.
Levei a mão direita ao olho do mesmo lado.
- O que... foi isso?
Aquela minha manhã estava muito estranha, e eu precisava desabafar com alguém.
- Então você teve novamente o tal sonho? – perguntou Damion, para mim. Damion era, sem sombras de dúvida, meu melhor amigo. Sempre que eu tivesse um problema, a primeira pessoa que eu sempre recorri foi Damion, até mesmo que meus pais.
Estávamos numa das praças principais da cidade. Damion estava sentado num dos bancos, enquanto eu estava de pé, escorado numa estátua, ao lado de Damion. O sol estava a pino, mas, por estarmos em uma praça bastante arborizada, o sol mal incidia em nossas cabeças.
- Exatamente! – respondi
- E qual é o problema nisso? Só por que tem anos que você não tem esse sonho não signifique que você nunca o terá novamente...
- O problema maior não foi o sonho por si só. Foi o que aconteceu na rua!
Damion mostrou claramente de que não estava entendendo nada.
- Explique melhor! – disse, sereno
- Quando eu estava na rua, passou por mim uma garota e, naquele instante, eu tive uma espécie de visão, de uma rápida cena desse meu sonho.
- A garota... – disse Damion, sério
- O que tem ela?
- É bonita? – perguntou, com olhar e ar sacanas.
Fiquei bastante irritado com a pergunta de Damion. Essa mania de fazer piada quando alguém estar desabafando com ele é o ponto do meu amigo que mais me deixa irritado.
- O QUE ISSO TEM A VER? – perguntei, irritado, aos gritos
- Nada. – respondeu, com um sorriso sacana no rosto – Mas, se você pegou o telefone dela, eu iria pedir!
- Eu apenas vi a garota, não aconteceu nada de mais!
- Novidade... – disse, suspirando, ainda com olhar sacana
Fiquei tão irritado com Damion, que virei as costas e disse, enquanto me distanciava do meu amigo:
- Se não quer me ajudar, obrigado!
- Acalme-se, estou só brincando! – disse Damion
Parei e voltei.
- O que você viu? – perguntou
- Foi a visão de eu e a Mary nos abraçando!
Damion olha para cima e diz:
- Você sempre foi preso ao passado!
- Mary foi minha melhor amiga desde criança. É claro que eu ainda tenho um grande apreço por ela!
- Só amizade? – perguntou. Outra mania enjoada de Damion, ficar me cutucando até me deixar irritado e falar o que ele quer ouvir
- Você sabe que sim!
Respirei fundo. Virei para os céus e fiquei fitando-o.
- Queria encontrar com ela novamente...
- Talvez ela esteja perto de você e você ainda não se deu conta... – disse Damion
- Está insinuando alguma coisa?
- Não, Matt, você sabe que sou péssimo em fazer isso – disse Damion – O que estou falando é que você está com esse negócio na cabeça a manhã inteira. Talvez seja um sinal...
- É, faz sentido...
A conversa que tive com Damion ficou em minha cabeça o resto do dia.
“Talvez seja um sinal...”, essas palavras de Damion ecoavam pela minha cabeça desde que conversamos.
Estava nevando, pouco, mas estava. Já estava de noite, o que diminuiu ainda mais a temperatura. Estava muito frio, e passei em casa para aumentar o número de minhas vestimentas.
Desde a conversa com Damion, fiquei vagando pela cidade. Precisava colocar a cabeça em ordem. Gostaria de saber o que estava acontecendo comigo, por que estava triste e pensativo, por que da tal visão assim que vi a garota, e tudo mais... Não estava entendendo o que estava acontecendo comigo. Será que, mesmo depois de dez anos, eu ainda estava amando aquela garota?
Estava vagando pela cidade. Àquela hora, com neve e frio, a cidade estava deserta, não havia praticamente uma viva alma vagando pela cidade, só eu mesmo, o único maluco.
Achei uma livraria aberta, perto da onde eu estava. Resolvi ir até lá, seria bom para minha cabeça achar algum livro interessante para dar uma olhada.
Depois de poucos minutos andando, entrei na livraria. Ali estava mais quente que do lado de fora. Mais quente, e mais movimentado, porque, dentro da livraria, havia algumas pessoas olhando os livros nas vitrines.
- Deseja algum livro em especial, meu jovem? – perguntou uma das funcionárias, a que estava mais próxima de mim
- Não necessariamente. Vim só dar uma olhada!
- Qualquer dúvida, é só me procurar!
- Obrigado! – eu disse
Distanciei-me da funcionária, caminhando em direção às vitrines.
Sempre me encantei por livro, e sempre que pude li algum que julguei interessante. Por isso, eu estava em um ambiente não só de refúgio, mas também para me ocupar mentalmente com outra coisa.
Estava na primeira vitrine. De tão fascinado pelo livro eu sou que, ao ver uma vitrine cheia deles, mal consigo ver quem está ao meu lado. Pode passar meu pai, o Damion, o papa, que eu nem percebo.
Estava passando as mãos pelos livros da vitrine até esbarrar em alguma coisa diferente. Era macio, e sua textura lembrava algo familiar.
Olhei para a coisa que eu esbarrei. Era uma mão, delicada e macia. Olhei para o dono da mão. Era a garota linda que vislumbrei mais cedo. Ela me fitava com um olhar sem graça, e eu fiquei mais sem graça e mais enrubescido que ela quando eu percebi a situação que eu encontrava. Rapidamente, puxei minha mão e comecei a sessão de pedir desculpas, balbuciando.
- Não se preocupe! – disse a garota, sorridente – Me paga um café quente que eu te desculpo!
Se fosse um canhão que tinha me dito isso, eu preferiria não ter sido desculpado, mas, para aquela garota, eu pagava, sem sacrifício nenhum.
Estávamos sentados no andar superior da livraria, que era uma espécie de lanchonete, onde as pessoas liam os livros que compraram enquanto vislumbravam um café quente ou um sorvete, dependendo da época do ano.
O café da garota tinha acabado de chegar, e o meu também. Ela estava sorridente e eu não parava de fitá-la. Meu coração estava a um passo de explodir no meu peito, eu estava muito nervoso. Por mais que eu já tenha ficado com algumas garotas, mas nunca fui convidado para uma conversa por uma garota tão linda como aquela.
- Gosta muito de livros, ou foi ali procurar um para dar de presentes? – perguntou a garota
- Gosto muito. Sempre gostei! – eu disse, um pouco acelerado, por causa do meu nervosismo. Felizmente, não estava gaguejando, o que demonstrava uma naturalidade em mim
- Não gosta de dar livros de presentes ou seus amigos não gostam de recebê-los?
- Já comprei os presentes! Não gosto de deixar de última hora!
- Também detesto! – disse a garota, enquanto beliscava o café
- E você? – perguntei – Estava para comprar ou apenas olhando?
- Gosto de olhar as estórias dos livros. Viajo em estórias! – ela disse, antes de dar uma risada sincera
Delirei no sorriso da garota, parecia uma princesa, uma fada, sei lá, alguma coisa do tipo.
Ao me perceber fitando-a, a garota me pergunta:
- Aconteceu alguma coisa?
- Nada. Nada! – disse, voltando a mente ao corpo
- Bom – disse a garota, enquanto se levantava, em seguida ao último gole do café – Já é hora de ir!
- E...Eu te acompanho! – eu disse, enquanto me levantava
- Muito obrigada! – disse a garota, sorrindo
Descemos a escada e chegamos à livraria.
- Que tipos de livros você gosta? – perguntou a garota
- Gosto de livros do estilo do Edgar Allan Poe e da Agatha Christie.
- Esses são livros mais voltados para o público masculino!
- E você? – perguntei – Que tipo de livros você gosta?
- Livros da Stephenie Meyer e da Nora Roberts.
- São livros mais voltados para o público feminino! – eu disse – Não acho que são livros ruins, mas o gênero não é o que me agrade!
- Como você mesmo disse, são livros voltados para o público feminino!
A conversa estava muito atraente, o tempo parecia ter ficado estático, para que eu e aquela garota pudéssemos continuar conversando para todo o sempre.
Depois de muitos minutos conversando, virei para a garota e perguntei:
- Ainda não nos apresentamos.
- É verdade! – disse a garota. Ela dá uma risada – Esqueci por completo!
- Me chamo Matt! – me apresentei
- Olha, você tem o mesmo nome de um garoto que eu conheci na infância!
- Sério? – perguntei, rindo. Eu ri para disfarçar a estranha dor no peito que eu estava sentindo no momento
- Ele era um grande amigo. Pena que não tenho mais contato com ele!
Percebi nos olhos da garota de que ela estava gostando de se lembrar daquele garoto.
- E você? – perguntei – Como se chama?
- Mary!
- MARY?! – perguntei, surpreso – Mary Simpson?
- Matt?! – perguntou a garota, surpresa – Matt? É você?
Naquele momento, eu fiquei bastante alegre. Talvez não só eu, Mary também. Depois de dez anos separados, nos reencontramos.
Naquele instante, Mary correu em minha direção e me abraçou. Me deu um enorme abraço, enquanto dizia:
- Não acredito, Matt. Quanto tempo!
Depois do grande e forte abraço que demos um ao outro, eu disse, analisando seu rosto:
- Vejo que você está bem, Mary!
- Você também está bastante bonito, Matt! – disse Mary. Ela ainda estava em êxtase, talvez mais que eu – Nossa, Matt, como você cresceu!
- Você também. Nem te reconheci mais!
- Nem eu, Matt. Nem eu!
Naquele instante, eu estava em êxtase. Realmente aquele sonho e aquela visão foram um prenúncio de alguma coisa boa que estava para acontecer. Pelo menos, por alguns instantes...
- O que está fazendo aqui, em Kharmville? – perguntou Mary
- Estou morando aqui agora. Depois que saí de casa, resolvi vir para Kharmville fazer faculdade!
- Faculdade... – repetiu Mary – Realmente o tempo voou!
- E você, Mary? O que faz aqui em Kharmville?
- Estou somente passeando – respondeu Mary – Minha tia está morando aqui, e vou passar o Natal e o Réveillon aqui na cidade!
- Nossa, nem acredito que você está aqui, Mary. Depois de dez anos, finalmente nos reencontramos! – eu disse. E realmente estava em êxtase com os acontecimentos
- Nem eu, Matt! – disse Mary, antes de dar até mim e me dar outro abraço
Assim que terminamos de nos abraçar, Mary deu um passo para trás. Naquele instante, eu conseguia sentir o frescor da sua boca vindo diretamente no meu rosto. Naquele instante, cheguei com o rosto perto do de Mary, até nossos narizes se esbarrarem.
Em seguida, nos beijamos. Como os lábios dela eram macios, e eu sentia o frescor de seu hálito na minha boca.
Eu queria que aquele instante nunca acabasse. Entretanto, uma hora acabou.
Assim que terminamos de nos beijar, fiquei envergonhado. Que merda eu fiz..., perguntei a mim mesmo.
- Me... desculpe! – eu disse. Estava enrubescido, tamanha vergonha. Apesar de gostar do beijo, naquele momento percebi o erro que cometi. Ao contrário de mim, Mary parecia estar brava, e realmente estava. Ela sentou os cinco dedos da mão direita na minha bochecha direita.
Em seguida, virou as costas e partiu. Julguei melhor não correr atrás dela. Era necessário, primeiramente, ela se acalmar, para depois me perdoar. Mesmo que isso demore dias e mais dias...
Os dias passam. Era 24 de dezembro. Minha casa estava cheia. Meus familiares e meus amigos ocupam quase que por completo o espaço da minha casa.
A casa não era grande, mas todos conseguiam caber dentro. Havia dois quartos, um banheiro, uma copa com cozinha, uma sala e uma varanda.
Eu estava sentado no sofá, desanimado. Estava sozinho, apesar de estar em minha casa. Segurava um copo de guaraná cheio, nem mesmo havia beliscado o refrigerante.
Damion percebe minha tristeza, sente-se ao meu lado e me perguntou:
- O que aconteceu, Matt?
- Nada de mais, Damion! – respondi – Só não estou com pique para festas!
E realmente não estava. Ainda estava machucado pela idiotice que eu tinha feito dias atrás. Quando finalmente consegui encontrar Mary, depois de dez anos, acabo fazendo merda e ela fica irritada comigo. Eu sou uma besta mesmo!
- Eu sei que aconteceu alguma coisa, Matt, mas não vou insistir! – disse Damion, se levantando – Eu sei que você é péssimo para guardar segredo. Na hora que você deixar escapulir, eu vou estar do seu lado para descobrir!
- Filho da mãe! – eu disse, sorrindo. Damion me conhecia como ninguém.
Damion se afastou de mim, pouco antes da minha mãe chegar, toda afobada, dizendo:
- Filho, filho, venha cá!
Minha mãe puxou-me pelo braço, quase me arrastando. Eu tentei pedir para ela se acalmar, principalmente porque meu refrigerante estava entornando no chão. Por sorte, não foi em minha roupa, mas estava sujando o chão da casa.
Minha mãe parou em frente ao meu pai.
- Aconteceu alguma coisa? – perguntei, enquanto minha mãe me soltava
- Você não acredita quem eu encontrei aqui em Kharmville?
- Mãe, não estou interessado em saber qual amiga sua de infância você achou por aí! – eu disse, dando as costas para minha mãe
- Não, Matt. A amiga de infância não é minha, é sua! – disse minha mãe, fazendo-me parar
- Como? – perguntei, virando para minha mãe
- Veja quem é, meu filho! – disse meu pai, dando um passo para o lado e saindo da frente de alguém
Quando vi alguém, fiquei surpreso, mas tão esperançoso. Minha mãe havia encontrado ninguém mais, ninguém menos, que a Mary.
- Veja, Matt. É a Mary, aquela sua amiga de infância! – disse minha mãe
Naquele momento, eu fiquei de calça justa. O que fazer? Como agir? Não queria que ninguém soubesse o que aconteceu entre nós dois, mas seria extremamente difícil disfarçar.
- O...Oi! – eu disse, levantando timidamente a mão direita. Foi a primeira ideia que eu tive.
Infelizmente, minha ideia e meus planos foram por água abaixo. Mary virou o rosto, irritada, para mim, e saiu de perto. Todos ficaram me olhando, principalmente meus pais. Tinha total certeza de que todos estavam se fazendo a mesma pergunta: O que aconteceu?
Saí de perto dos meus pais, antes que eles começassem a interrogar-me. Entretanto, acabei esquecendo que Damion tem a mesma mania dos meus pais.
Minha mãe ia andando para o meu lado, mas meu pai me segurou.
- Alguma coisa aconteceu entre os dois, Alfred. Eles eram muito amigos e não se veem há 10 anos. Não tinha como reagirem dessa maneira. – disse minha mãe
- Eu também tenho certeza de que alguma coisa aconteceu, Agatha, mas será os dois quem resolverão! Além disso – meu pai fez uma pausa, enquanto apontava com os olhos para sua frente – parece que o Damion irá conversar com o Matt. Ele conhece Matt mais do que a gente, com toda certeza ele ajudará nosso filho mais que a gente!
Minha mãe ficou parada por um momento. Não queria fazer o que meu pai havia falado, mas era o melhor a se fazer.
- Está bem, Alfred. Está bem!
Minha mãe se distancia do meu pai, mas para ao ouvi-lo falar:
- Se quiser conversar com alguém, acho melhor conversar com a outra parte!
Minha mãe vira-se para meu pai, surpresa.

Assim que saí de perto da minha mãe, caminhei em direção à cozinha. Ao chegar por lá, encostei-me no balcão que dividia o cômodo com a copa e fiquei vendo a festa, enquanto beliscava o que sobrou do meu refrigerante.
Naquele instante, ouço Damion me perguntando, atrás de mim:
- Eu não te disse que você era péssimo em esconder as coisas, que logo, logo você iria deixar escapulir alguma coisa?
- E você, como sempre, estava no lugar certo, na hora certa, para pegar tudo o que deixei escapulir! – eu disse, sorrindo, virando para Damion
- É claro! – disse Damion, desencostando da mesa da copa e se dirigindo até o balcão
Assim que Damion chegou ao meu lado, voltei à minha posição anterior.
- Aposto que quer saber o que aconteceu entre mim e Mary! – eu disse
- Na realidade, não! – disse Damion. Fiquei surpreso com a fala do meu amigo e virei o rosto para ele – Se você não quer contar, não vou insistir!
Virei novamente o rosto para frente.
- Ainda bem! – brinquei
- O que eu vim comentar é que essa sua amiga é muito gostosinha! – ela disse, com ar de sacana
- Olha o respeito! – eu disse
- Não é nada de mais falar que uma garota é gostosa. É sua amiga, não é sua namorada!
Por mais estranho que fosse, quando Damion proferiu sua última frase, meu coração disparou, e veio na memória a lembrança do beijo, uma lembrança tão forte que dava para sentir os lábios de Mary tocando nos meus.
- Você quer ser namorá-la, não é? – perguntou Damion. Ele me conhecia a ponto de saber como eu estava por cada reação minha
- C...Claro que não! – fui pego de surpresa. Acabei balbuciando
- Ah, qualé? – disse Damion – Essa Mary é sua amiga e é muito gostosinha. Vai dizer que não quer namorá-la? É por que ela é metidinha?
- Não, ele é gente boa. – pausa – Ou, pelo menos, era...
- Então, cara... – disse Damion – Sua amiga, gostosa e gente fina, quer mais o quê?
Suspirei fundo. Estava visivelmente triste com o rumo que a conversa estava tomando.
- Não é bem simples assim!
- Vocês brigaram, não foi? – perguntou Damion – Por que brigaram?
Eu sabia que Damion iria me enrolar até me fazer falar.
- Acho que eu posso te contar... – eu disse. O fato de eu e Mary termos brigado estava corroendo-me por dentro, ainda mais com o rumo que a conversa estava tomando e precisava me desabafar.
Enquanto eu desabafava com Damion, Mary estava debruçada na varanda da minha casa. Estava sozinha, segurando um copo cheio de coca-cola. Pensei que ela estivesse com raiva, mas ela estava triste.
- Aconteceu alguma coisa entre você e meu filho? – perguntou minha mãe, na entrada da varanda, atrás de Mary
- Não é nada, sra. Thompson! – respondeu Mary, virando-se para minha mãe. Como sempre, Mary chama minha mãe de sra. Thompson
- Você não mudou muito nesses dez anos, Mary. Não por fora, você ficou muito bonita...
- Obrigada, sra. Thompson! – disse Mary, forçando um sorriso
-... mas, por dentro, você continua a mais. Mais madura, claro, mas continua a mesma pessoa!
- É, ninguém muda por dentro, não importa quanto tempo passe! – filosofou a garota
- Não, Mary! – disse minha mãe – O Matt mudou, mudou muito!
- Realmente parece que mudou, sra. Thompson. – disse Mary, com um sorriso verdadeiro na boca, mas uma melancolia nos olhos – Quando éramos criança, Matt só tinha a mim como amiga. Hoje ele tem vários deles, inclusive um que mais parece irmão. O que está conversando com ele na cozinha!
- Ele realmente mudou muito! – disse minha mãe, me vendo na cozinha da varanda – Mas mudou por sua causa, Mary! – ela olhou assustada para minha mãe – Quando você foi embora, Matt ficou triste, porque ele gostava muito de você, muito mesmo, aí ele me prometeu de que iria mudar, ele me disse que quando gostasse de outra garota, ele iria chegar nela como não fez contigo!
Mary ficou surpresa, tão imaginava os meus sentimentos por ela.
- E...Eu n...não ima...ginava! – disse Mary, ainda bastante absorta com sua descoberta
- O que eu quero dizer – disse minha mãe, sobrepondo sua mão direita à esquerda de Mary – é que finalmente vocês se encontraram. Não sei o que aconteceu entre você e meu filho, mas perdoa ele. Com toda certeza, eu sei que foi impensado a atitude dele!
Minha mãe não sabia o que aconteceu entre mim e Mary, mas tinha total certeza do que aconteceu, mas não quis especular nada.
- Então, você beijou a Mary? – perguntou Damion
Concordei com a cabeça. Estava tão envergonhado que só consegui responder com a cabeça.
Damion riu, enquanto se desencostava do balcão.
- E ela brigou contigo, certo?
- Aonde quer chegar? – perguntei
- Converse com ela, Matt! – disse Damion – O melhor a se fazer agora é conversar. Pedir desculpas só não basta. Tem que conversar com ela, talvez ela só foi pega de surpresa. Corra riscos, meu caro, só assim você vai conseguir ter o que quer ter.
As palavras de Damion, como sempre, me fizeram ganhar coragem.
- Você tem razão! – disse, encorajado – Não há nada a perder mesmo!
Damion sorriu. Desencostei do balcão e saí em direção à sala.
Mary estava sozinha na varanda, minha mãe havia deixado-a sozinha para pensar no que iria fazer. Ela ainda estava arrumando na cabeça os fatos que minha mãe lhe contou. Eram fatos extremamente novos para Mary, e ela ainda estava bastante surpresa.
- O que... eu devo fazer? – ela se perguntou, ainda bastante confusa
- Podemos conversar? – eu perguntei, atrás dela. Minha voz demonstrava meus sentimentos, uma austeridade misturada com uma melancolia
- Matt! – disse Mary, surpresa, virando-se para trás. Talvez a última pessoa que Mary queria conversar, naquele momento, era comigo
- Podemos conversar? – insisti. Caminhei até ficar do seu lado
- O que quer falar comigo, Matt? – perguntou Mary. Sua voz demonstrou uma estranha frieza em suas palavras
- Queria lhe pedir desculpas pelo ocorrido! – eu disse. Mary não demonstrou surpresa. Talvez ela já tivesse em mente de que eu iria lhe pedir desculpas – Não quero que se sinta aborrecida na véspera do Natal! – disse, sentado na mureta da varanda
- Eu estou sabendo... – Mary disse. Sua frase me deixou surpreso, e também curioso.
- De...? – perguntei
- Dos seus sentimentos por mim!
A frase de Mary lançou meu coração às alturas. Fiquei trêmulo, nervoso e enrubescido. Não iria conseguir formular uma frase sem balbuciar horrores.
Fiquei cabisbaixo, não iria conseguir encarar Mary.
- Então... minha mãe te contou!
- Por que VOCÊ não me contou antes? – perguntou Mary, chamando minha atenção para ela
- Como? – perguntei, surpreso.
- Por que, ao invés de você deixar as coisas acontecerem, você não chamou e me contou que gostava de mim?
Novamente fiquei cabisbaixo.
- Não é tão fácil assim... – eu disse, com o olhar perdido no infinito – Você sabe como sou...
Mary abre um sorriso.
- Você está bem mais diferente do que há dez anos...
Ao perceber Mary sorrindo, acabei ficando menos tenso, como se tivesse sendo menos pressionado.
- Mas eu gostei de saber que você gosta de mim! – disse Mary, olhando para cima. Nessa hora, meu coração foi às alturas, fiquei novamente trêmulo e enrubescido – Afinal, você é meu querido amigo de infância!
Eu queria acabar com aquela conversa. O fato de ela ficar falando aquilo, de um jeito ou de outro, estava me machucando.
- Bom – eu disse, descendo da mureta – Creio que você me desculpou então!
Não quis ouvir sua resposta. Fui caminhando, a passos não muito nítidos, em direção à casa.
- Espere. Não acabei! – disse Mary, segurando meu braço
Virei para Mary.
- O que eu quero dizer é que...
- Que?
Percebi Mary ficando enrubescida. Ao invés de me dar uma resposta, percebi sua cabeça vinda em direção a mim.
- Ma... – eu disse, mas não tive como terminar. Mary tampou minha boca com a sua. E eu não iria mover nem céus nem terra para destampar minha boca.
Ficamos ali, um sentindo a maciez dos lábios do outro, o frescor do hálito, enquanto todos, de dentro da casa, viam como, em uma noite, o mundo pode dar voltas.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Ser magro não é bom!





Todo mundo reclama que ser gordo é ruim. Não dá para entender o por quê. Só porque não consegue passar na roleta do ônibus, tem que subir no elevador de carga e todo mundo acha que quem peidou foi ele, não quer dizer que ser gordo é ruim e ser magro é bom. Ser magro é muito pior.
Para começo de conversa, magro é ignorado e nunca é levado a sério. Gordo, assaltante não rouba, pois tem medo de ser esmigalhado. Em compensação, o magro ninguém teme. Ele vai fazer o quê? Só se for abrir os braços e seguir o curso do vento, voando. Gordo entra no ônibus, todo mundo repara, sai da frente, cede lugar... magro não. Enfia em qualquer buraco e fica lá, indo igual montanha-russa, porque nem lugar para se segurar ele tem. Quem está em volta que o segura.
O maior sofrimento em ser magro é no tempo de escola. É sacanagem, apelido de tudo quanto é jeito, todo o tempo, mas o que mais incomoda é quando lhe pergunta: “Ei, cara, você que quer tanto ir para lá, onde fica Greyskull?”, “Por que odeia tanto o He-Man?” ou algo do tipo. E as brincadeiras continuavam, só não eram mais pesadas porque a pessoa era magra. Na adolescência, hormônios à flor da pele e os adolescentes sempre acreditam que qualquer situação gera sexo, como acontece em filmes pornôs. Certa vez, a professora um aluno magro para a frente da turma. Ele foi se achando – professora gostosa, adolescente, achou logo que ia rolar um bacanal ali, sensação que aumentou quando a professora lhe pediu para tirar a camisa. E o aluno achou que ia se dar bem, a mão a professora passeando por seu tórax nu, até ouvi-la dizendo: “Vejam, alunos, esse é o osso esterno, essa é a clavícula...”
Magro só possui duas vantagens. A primeira é a facilidade em fazer exames médicos. Quando você vai ao médico, p.ex., com dor de estômago, o médico simplesmente manda você tirar a camisa, apaga as luzes – e nessa hora você reza para não ser como em um filme pornô –, acende um isqueiro e passa na frente do estômago, e pronto!, ele já possui um diagnóstico. Não precisa ficar dias e dias esperando exame para saber o diagnóstico. Sai na hora!
A segunda vantagem em ser magro é a facilidade em se esconder. Virou de lado, ficou de perfil, sumiu, ninguém mais o vê. É uma mágica melhor que a de Houdini. O único problema é o seu amigo babaca, aquele que todos possuem ao menos um e que sempre faz piadas incômodas. Se acontecer de chover e você, caro amigo magro, precisar ir embora, mas está sem guarda-chuva, jamais recorra a seu amigo babaca, porque ele simplesmente virará para você e dirá: “Pra que guarda-chuva, cara? Anda de lado que você não se molha!”
Por falar em amigo babaca, é sempre ele quem inferniza a vida dos outros. Certa vez, um magro foi a uma balada junto de seu amigo babaca, que dançava igual a um robô, no estilo Rei Julien... “Eu me remexo muito, tu se remexes muito...”, quando, percebendo uma situação, um amigo deles gritou: “Cara, sacode o esqueleto”. O que aconteceu? O amigo babaca segurou o magro por trás e o sacudiu igual a uma boneca...

sábado, 17 de dezembro de 2011

O caso John Grishard




A sala onde o julgamento do ano estava acontecendo estava lotada. Todos queriam testemunhar o fim do caso que tomou conta das principais páginas dos jornais locais durante semanas. O acusado, John Grishard, um rico empreendedor da cidade, estava testemunhando, triste e calado, o desfecho do julgamento. Acusado de assassinar cruelmente mãe, irmã e cunhado, com o empenho da mídia em acusá-lo, o corredor de morte era mais que certo que seria seu destino.
- O júri decidiu, por 7 votos a 4, que John Grishard é considerado acusado. – na hora, começou um leve tumulto. Grishard abaixa a cabeça. O juiz bate o martelo e espera o tumulto acabar – O júri declarou que a sentença dada ao réu será a de morte. – O público sorri; Grishard parecia chorar - A sentença será cumprida em duas semanas. Enquanto isso, o réu deve aguardar o cumprimento da sentença em regime fechado. – o juiz bate o martelo novamente e se levanta
O réu é retirado da sala de julgamento, sob os gritos incessantes da multidão, chamando-o de assassino. Os gritos eram tão altos que abafaram os gritos de Grishard, que gritava ser inocente, que aquilo era uma calúnia.
Na plateia, estavam dois homens vestidos comumente, mas de comuns nada tinham. O da direita, um homem levemente robusto, cabelo preto, portador de um bigode unido a um cavanhaque e vestindo terno era o russo Alexandre Kajre, ajudante do detetive inimaginável vienense Guilherm Friederich Fritz, um homem franzino, ruivo, portador de óculos e vestindo um sobretudo.
Com um sorriso de satisfação no rosto, Kajre diz para Fritz:
- Justiça seja feita.
- Sei não! – disse Fritz, pensativo
- Aconteceu alguma coisa, Guilherm?
- Não acredito que o John seja assassino, Alexandre!
Misturados na população, Fritz e Kajre deixam o fórum, mas não deixam o assunto.
- Como assim? – perguntou Kajre, surpreso – Todo mundo sabe que o Grishard é o assassino!
- Alexandre, ele foi assim tachado pela própria população. Não quer dizer que realmente seja!
Alexandre caminha até ficar frente a frente a seu amigo, fazendo os dois pararem.
- Olha, Guilherm, você não quis pegar o caso enquanto podia! Agora, não pode fazer mais nada!
Guilherm fitou o amigo, com olhos de quem está para explodir.
- Você sabe que eu estava em outro caso, Alexandre. – disse Fritz, distanciando do amigo, dando as costas a ele
Alexandre caminha até ficar novamente lado a lado a Fritz.
- Tudo bem, deixa isso pra lá... – Alexandre faz uma pausa – Mas por que você supõe que o Grishard não é culpado?
- Tenho que analisar a casa e os corpos primeiro. Felizmente, ainda não foram enterrados. Acho que o inspetor previu que eu fosse investigar antes do caso ser dado por encerrado!
- Você não me respondeu, Guilherm. Por que supõe que Grishard não é o assassino?
- Não sei, Alexandre. Minha intuição de detetive que me diz!
Fritz e Kajre caminham pela cidade. Pararam em frente a um portão de uma luxuosa casa. Tanto o muro que circunda a casa quanto o portão eram de grade, permitindo, assim, qualquer um ver os jardins frontais e a entrada da casa.
- É aqui! – disse Fritz
- A casa está com quem agora? – perguntou Kajre
- Deve de ainda estar sob a égide policial, Alexandre! – respondeu o amigo
O detetive tocou a campainha, localizada ao lado do portão. Poucos segundos depois, um policial mal-humorado abriu a porta da casa.
- Quê que é?
- Eu sou Guilherm Friederich Fritz e esse é meu amigo Alexandre Kajre. Viemos aqui ver a cena do crime do caso John Grishard!
- Vocês não acham que vieram um pouco tarde demais, não? O Sr. Grishard já está preso e condenado. Já, já, vai ser executado!
- Por isso mesmo tenho que agir agora! – respondeu Fritz, meio ríspido – Temo que a justiça tenha feito uma injustiça, e vim aqui fazer a última análise. Como uma espécie de aval, entende-me?
- Entendi! – disse o policial, mais bem humorado. Talvez a companhia de alguém tirasse o pobre coitado da companhia diária com a solidão – Tudo bem. – continuou, caminhando em direção ao portão com um molho de chaves em punho – Pode entrar, senhor Fritz e senhor...
- Kajre! – completou Alexandre
- E senhor Kajre! – disse o policial
Alexandre e Fritz entraram nos jardins da suntuosa casa. Deram dois passos e esperaram o policial fechar o portão, para este tomar a frente.
Seguidos pelo policial, entraram na casa. Uma suntuosa casa, principalmente vista por dentro. A primeiro plano, uma sala, com um par de sofás caríssimos, uma TV 50’, um home theater, um aparelho de DVD e uma mesinha central. No teto, um par de lustres e um ventilador central. Da sala, partia um par de corredores, um para o fundo da casa, outro para a direita. Ao lado do segundo corredor, uma escada, que dava ao andar superior.
Enquanto Fritz e Kajre vislumbravam o cômodo, o policial aquietou-se. Esperou o grupo terminar de contemplar, para tomar as rédeas e dizer:
- Queiram me acompanhar, senhores!
O policial subiu as escadas, seguido por Fritz e Kajre. Ela era de madeira antiga, havia um corrimão e subiu apenas um de cada vez. Seu formato era de um “U” na horizontal.
Chegando ao andar superior, a dupla de amigos se deparou com um corredor cercado de inúmeras portas laterais e uma maior, frontal. Em silêncio, caminharam até o final do corredor. Pararam frente a frente à porta frontal e a uma dupla de portas laterais, frontalmente entre si.
- Chegamos! – disse o policial. Fritz e Kajre continuaram em silêncio – A porta lateral da esquerda é onde ficavam os quartos do senhor e da senhora Matthews e o quarto maior, da matriarca da família.
- E esse quarto? – perguntou Fritz, apontando para a porta lateral da direita
- Esse é o quarto do senhor Grishard!
- Certo! – disse Fritz – rápida pausa, como se fosse apenas para dar uma golfada no ar – Não se preocupe, senhor policial, não tocarei em nada!
- Certo – rápida pausa – mas estarei de olho em vocês! – disse o policial
Fritz abriu a porta lateral esquerda. Era um quarto, como o próprio policial dissera. Tinha uma cama de casal central, com lençóis, travesseiros e fronhas, um guardarroupa numa parede e uma porta frontalmente ao guardarroupa. Por fim, havia uma janela frente a frente com a porta, do outro lado do cômodo.
A cama chamava atenção: os lençóis estavam esparramados num canto e faltava o travesseiro posicionado lado a lado com o que se encontrava sobre a cama. Além disso, havia uma marca de sangue, já coagulado, no lado arrumado da cama e alguns pingos do outro lado. Fritz rodou em volta da cama como um caçador roda em volta de sua presa. Do outro lado, percebeu o travesseiro caído no chão e pingos de sangue no chão.
- Como estavam os corpos, policial? – perguntou Fritz, sem parar de olhar para a cama
- Ah, senhor Fritz, uma cena muito estranha! – disse o policial, caminhando até ficar lado a lado com Alexandre, que estava no lado oposto ao seu amigo – A Sra. Matthews estava deitada de bruços deste lado – ele apontou para o lado arrumado – com um tiro atravessando suas costas, enquanto o Sr. Matthews estava caído no chão, com um tiro no peito. Pela cara de surpreso que o Sr. Matthews apresentava, parecia que ele ouviu o tiro que matou sua esposa e acordou, sobressaltado, ficando sentado na cama e recebendo um tiro certeiro no peito.
Ao ouvir a narrativa do policial, Fritz olhou novamente para os lençóis sobre a cama.
- A quantos metros de distância foram os disparos? – perguntou Fritz, fitando o policial
- Não sabemos, senhor Fritz. Não conseguimos calcular precisamente!
- Bom – disse – vamos para o quarto da Sra. Grishard.
Tomando a dianteira desta vez, Fritz sai do quarto e caminha em direção ao outro quarto. Enquanto caminhavam em direção ao segundo quarto a ser analisado, Fritz perguntou para o policial:
- Como estavam trancadas as portas da casa?
- Por dentro! – Fritz e Kajre, surpresos, fitam o policial
- Como assim? – perguntou Kajre – Então, não tem como o Sr. Grishard...
- A janela do quarto do senhor e da senhora Matthews estava fechada por fora.
- Trancada, suponho. – disse Fritz, continuando andando em direção ao quarto
- Não! Destrancada!
Fritz não demonstrou surpresa; Kajre, ao contrário, estava surpreso com os fatos.
Chegaram ao segundo quarto. Dessa vez, foi o próprio Fritz quem abriu as portas. Da porta do quarto dava-se para ver o quarto inteiro. Ele era mobiliado exatamente igual ao quarto visitado anteriormente. A única coisa que mudava era a cama, que, ao contrário da anterior, não havia marcas de sangue e tudo estava nos conformes, exceto um detalhe: faltava o lençol para se cobrir.
O policial, percebendo o interesse do grupo pela cama, adiantou:
- Ela foi enforcada com o lençol!
- Já sabemos, senhor policial! – disse Fritz, sem olhar para o policial – Aliás, todo mundo já sabe!
O policial ficou em silêncio e deixou a dupla de detetives investigar o cômodo.
Fritz fitou a cama parado na porta, enquanto Kajre fitava-a circundando-a.
- Onde está o lençol que o assassino usou para estrangular a vítima? – perguntou Kajre, olhando para o policial
- Foi levado pelo inspetor! – respondeu o policial
- Quer indagar mais alguma coisa, Guilherm? – perguntou Kajre, para Fritz
- Não! – respondeu Fritz, desviando o olhar para seu amigo – Acho que já podemos ir embora!

Fritz e Kajre estavam se despedindo do policial, em frente à parte externa do portão da casa.
- Eu não te disse que não há nada além do que sabemos, Guilherm? – perguntou Kajre, enquanto a dupla caminhava
- Talvez, meu caro Alexandre. – disse Fritz, sorridente – Mas temos que analisar os corpos primeiro!
- E para onde iremos agora?
- Ao necrotério, logicamente. Onde mais estarão os corpos?

Fritz e Kajre tocavam a campainha do pequeno prédio de três andares do necrotério.
- Posso ajudá-los? – perguntou um negro, de cabelos grisalhos e roupas simples
- Sou Guilherm Friederich Fritz e esse é meu amigo Alexandre Kajre. Queríamos solicitar ao senhor uma vistoria nos cadáveres do caso John Grishard!
Desconfiado, o negro cruzou os braços, encostou-se à parede e perguntou-lhes:
- Por que, eu poderia saber?
- Quero dar um parecer meu ao caso. Não quero ver alguém ser executado sem eu me convencer se ele é realmente acusado!
- Tudo bem! – disse o negro, desencostando da parede – Deixo-lhes entrar, porque o senhor é famoso na cidade, senhor Fritz!
- Obrigado! – agradeceu o detetive, sorridente – Não vou tomar muito do seu tempo, senhor!
- Assim espero, detetive.
Fritz e Kajre entraram no corredor apertado do necrotério, enquanto o negro fechou a porta de entrada.
- Queiram me seguir! – disse, tomando a dianteira
O negro foi conduzindo a dupla de investigadores até a entrada das geladeiras, um cômodo fechado, cheio de geladeiras imensas, que guardam inúmeros corpos. Na porta do local, entregou um par de grossos casacos à dupla, que os pegou e vestiu-os.
Igualmente vestido, o negro adentrou ao local. Caminhou alguns segundos ali por dentro e depois parou em frente a um grupo de geladeiras. Abriu um trio delas, posicionadas lado a lado entre si.
Sem tocar em nada, Fritz e Kajre fitaram os três cadáveres. O primeiro era uma senhora, septuagenária, com uma marca profunda no pescoço. Fritz esticou a mão para tocar na marca no pescoço do cadáver, mas o negro repreendeu e o detetive recolheu a mão.
O segundo cadáver era uma mulher, loira, cabelos longos, vestindo um pijama parecido com a septuagenária. Ela tinha aparentes 30 anos e, a pedido de Fritz, o negro virou-a de bruços, para que o detetive melhor analisasse a profunda ferida nas costas, perto das nádegas.
O terceiro cadáver era de um homem robusto, cabelos lisos e barbas, vestindo um pijama levemente amarrotado no corpo e trespassado por uma bala certeira, direto no coração. A mão direita do cadáver estava levemente fechada. Um detalhe importante, que não poderia passar despercebido do olhar voraz de Fritz era a expressão facial do defunto – um leve assustado.
- Não disse? – perguntou Kajre, exaltante – O Sr. Matthews assustou-se com o senhor Grishard, antes de ser trespassado. A cara dele revela tudo.
Fritz ficou calado, apenas analisando o corpo.
- Não vai falar nada, Guilherm?
- Falaremos lá fora. – respondeu, apenas, sem tirar o foco do cadáver
O negro estava encostado a uma das geladeiras. Parecia cansado, queria se sentar e assistir ao jogo de futebol na sua TV 14’, ao invés de ficar vigiando uma dupla de detetives investigando um caso já solucionado.
Assim que terminou de analisar os corpos, pouco tempo depois de falar, Fritz virou-se para o negro e disse:
- Já vimos o suficiente. Obrigado!
O negro apontou com a mão a saída e Fritz e Kajre caminharam até o local.

Fritz e Kajre já se encontravam do lado de fora do necrotério. Caminhavam sem rumo pela cidade, talvez estivessem voltando para casa.
Estavam em absoluto silêncio. Fritz retirou o celular do bolso do sobretudo, desbloqueou-o e teclou alguns números, exatos 9. Esperou alguns segundos com o celular em punho, fitando a tela do aparelho, apertou um décimo botão, diferentemente dos outros nove e guardou-o de volta no mesmo bolso.
Alexandre fitou as ações estranhas do amigo, mas nada proferiu, mantendo, assim, o silêncio que os circundava, silêncio este interrompido subitamente por Guilherm, dizendo, sorridente:
- Não te falei que o Sr. Grishard não poderia ser o assassino?
Alexandre sobressaltou-se diante a fala do amigo. Virou assustado para o amigo e perguntou, ainda surpreso:
- Como?
- O Sr. Grishard nunca poderia ter matado sua mãe, irmã e cunhado, por mais que odiasse o último! – afirmou Fritz
- Como pode ter tanta certeza, Guilherm? Não achamos nada de mais...
- Há mais coisas entre o céu e a terra do que as pessoas podem imaginar, meu caro Alexandre – filosofou o amigo, ainda mantendo o sorriso de triunfo no rosto – Se você se lembrar do cadáver da Sra. Grishard, lembrará claramente a marca de quem foi estrangulada...
- Exato. Você mesmo quis tocar e aquele senhor não deixou...
- Eu quis tocar não por causa da marca de estrangulamento, mas sim porque reparei que o osso do pescoço da Sra. Grishard estava quebrado.
Alexandre se surpreende com a afirmação do amigo.
- Quebrado... – repetiu, absorto
- Exatamente! – rápida pausa – Um jeito rápido de se morrer na forca é, com a quebra abrupta, a corda segurar o enforcado e quebrar seu pescoço. E foi exatamente isso o que aconteceu com a Sra. Grishard. Ela não morreu estrangulada pelo lençol, ela morreu com a quebra do pescoço. Entretanto... – Fritz dá uma pausa, para pairar um ar de suspense e tensão – para que isso acontecesse com uma queda pequena como a de quem está caindo no chão estando em cima da cama, precisaria de um nó e de um empurrão fortíssimos. E como você mesmo deve de ter reparado, a marca no pescoço da matriarca indica que o nó que a “estrangulou” – Fritz deu ênfase nas aspas – foi fortíssimo.
- Aonde quer chegar, Guilherm? – perguntou Alexandre
- Como deve de saber, o Sr. Grishard é franzino, o que o impediria de cometer tal atrocidade.
- Isso não implica nada. Ele pode... – dizia Alexandre, interrompido com um sinal de Fritz para ele manter-se quieto
- Hora nenhuma disse que minha afirmação fundamenta-se apenas nesse fato! – disse o detetive. Kajre aquietou-se – Tem também os tiros que mataram os senhor e senhora Matthews. O tiro que matou a Sra. Matthews foi um tiro que matou não da esquerda, posição de quem entrou no quarto e desferiu o certeiro golpe que matou o Sr. Matthews, segundo a versão oficial, mas de cima dela, como os próprios legistas devem de ter descoberto ao periciarem!
- Fizeram, Guilherm, e descobrirem que o Sr. Grishard subiu na cama e atirou! – disse Alexandre, irritado com tamanhas especulações de Fritz
- Errado, meu caro Alexandre Kajre! – Kajre fica surpreso – Na cena do crime não havia marcas de que o Sr. Grishard teria subido na cama para atirar.
- Então, sei lá... – Kajre tentava arrumar um argumento – ele pode ter atirado em pé mesmo, posicionando a arma para ficar de cima dela
- Primeiro, não havia motivos para fazer isso, já que ele poderia matá-la da posição que estava. – explicou Fritz – Segundo detalhe, a análise descobriu que o Sr. Grishard subiu na cama. Isso quer dizer que o tiro que matou a Sra. Matthews só poderia ser disparado por alguém em cima da cama.
Kajre emudeceu-se; não tinhas palavras para contrariar seu amigo.
Fritz continuou a argumentar sua tese inicial:
- E ainda tem o Sr. Matthews!
- O que tem ele? – perguntou Kajre, bem mais interessado pelas especulações do amigo que antes
- Segundo a análise policial, ele foi morto com um tiro certeiro no coração, estando sentado na cama e caindo com o impacto do tiro.
- Exatamente!
- Errado! – disse Fritz, com veemência
Kajre se surpreendeu com a afirmação do amigo.
- Errado?! – perguntou, ainda surpreso
- Exato. – pausa - Se o Sr. Matthews realmente tivesse sido morto dessa maneira como dizem, ele teria tentado se segurar para não cair da cama. Entretanto, não há marcas na colcha de tentativa de tal operação. – Fritz percebeu que Kajre movimentou a boca para falar alguma coisa e antecipou-o - Você poderia dizer que ele não teria tentado se segurar por estar baleado. Entretanto, uma de suas mãos estava fechada, o que demonstra que ele estava segurando algo.
Kajre emudeceu-se novamente.
- Outra coisa! – continuou o detetive – O Sr. Matthews teria caído da cama ao ver o assassino, não por ter sido alvejado. Ninguém ficaria sentado na cama com outra pessoa apontando-lhe uma arma para seu peito e com sua esposa morta do seu lado. Não havia como ele ser alvejado sobre a cama, porque ele assustaria com o vulto, antes dele atirar. Ou seja... – parou novamente para dar um ar de suspense - Ele teria de ser encontrado alvejado pelas costas, quando se arrastava pelo chão, tentando fugir do iminente destino.
- O que está supondo, Guilherm?
Fritz fez sinal com a mão para o amigo esperar.
- Na casa do Sr. Grishard, enquanto analisávamos os contos, fiz menção de procurar quais ligações foram dadas e recebidas pelos moradores presentes naquela noite. E descobri que, à meia-noite e vinte e cinco, ou seja, quinze minutos antes do fim – ênfase dada na palavra “Fim” - do morticínio, um traficante de drogas ligou para a casa do Sr. Grishard e a ligação demorou poucos segundos, nada mais que um simples recado dado. Esse sujeito era amigo de algum dos moradores, pelo fato de na bina haver seu nome registrado. Olhei na agenda de cada um dos moradores, guardadas na gaveta da escrivaninha e descobri que o traficante era amigo confidencial do Sr. Matthews.
- Aonde quer chegar, Guilherm? – insistiu Kajre
Fritz ignorou a pergunta do amigo e continuou a explicar suas especulações sobre o caso.
- Na bina também deu para reparar que pouco depois das 21 horas, o Sr. Matthews ligou para o traficante e essa conversa demorou mais de meia hora. Possivelmente, combinou com esse alguém para que ele embebedasse ou drogasse o Sr. Grishard, porque pouco menos de uma hora o Sr. Grishard já encontrava nesse estado, como a análise médica concluiu durante o caso.
- E a troco de quê o Sr. Matthews faria isso com o Sr. Grishard?
- Para incriminá-lo! – disse Fritz, falando novamente com veemência. Kajre fica surpreso com a afirmação do amigo – O Sr. Matthews já teve passagens por diversos sanatórios por ataques homicidas ou suicidas, exatamente após uma fúria. – Kajre mexeu os lábios para proferir alguma coisa, mas calou-se quando Fritz adiantou-se – Ao contrário do que possa imaginar, quando ele ficava furioso, o Sr. Matthews ficava extremamente calculista. – Alexandre se calou – Segundo os relatos dos vizinhos enquanto prestavam depoimentos, o Sr. Matthews havia discutido com o Sr. Grishard exatamente às 20 horas e 55 minutos, terminando a discussão com a saída do Sr. Grishard, cerca de um a dois minutos antes da ligação do Sr. Matthews para o tal traficante!
Kajre fazia cara de que estava entendendo tudo. Mentalmente, estava arquivando informação por informação; era informação demais dada no mesmo instante.
- Ou seja, para incriminar o Sr. Grishard, o Sr. Matthews matou sua sogra enforcada, atirou na sua esposa e depois se matou, fingindo ter ficado surpreso vendo o seu “assassino”. Quanto à arma do crime – adiantou-se, parando um instante para pairar um ar de instante no ar – Esse traficante deve ter entrado na casa pela janela, a única destrancada da casa, roubou a arma da mão direita do Sr. Matthews – por isso a arma dele levemente fechada – e saiu pela mesma janela que entrou. Como o Sr. Grishard estava esparramado na rua, por causa das drogas ou bebidas, foi fácil pô-lo como dono da arma e assassino do caso.
Kajre olhou abismado para Fritz; apesar de conhecer bem o amigo, tinha hora que Fritz se superava.
- Genial como sempre, Sr. Fritz! – gritou alguém, sobressaltando Kajre, tamanho o susto. A voz vinha do bolso do sobretudo de Fritz, que enfiou a mão no local e retirou seu celular
- Obrigado, inspetor. – disse Fritz
- Então, naquela hora... – disse Kajre, ainda assustado
- Sim. – respondeu Guilherm – Eu liguei para o inspetor e deixei no viva-voz!
- Bem esperto da sua parte, Guilherm! – disse Kajre
- É meu trabalho! – disse Fritz. Em seguida, virou o foco para o celular e disse:
- E agora? O que acontecerá com o Sr. Grishard?
- Passaremos suas informações para o juiz do caso. Com certeza, sabendo que você quem descobriu o verdadeiro assassino, libertará o Sr. Grishard!
- Folgo em saber, inspetor! – disse Fritz, sorridente
O inspetor se despede de Fritz e desliga o celular. Fritz guarda o aparelho no mesmo bolso.
Kajre vira para Fritz; ele estava feliz.
- Vamos beber? – perguntou
- Claro!
No dia seguinte, a primeira página do jornal da cidade estampava:
“O GENIAL GUILHERM FRIEDERICH FRITZ DESCOBRE O VERDADEIRO ASSASSINO DO CASO JOHN GRISHARD”